Especialistas explicam o que já se sabe sobre essas diferentes “versões” do vírus e como podemos combatê-las.
Após um ano do início da pandemia do coronavírus, o mundo agora tem uma preocupação a mais: as novas variantes, pois possuem do alto potencial de transmissão.
Um levantamento do Observatório Covid-19 da Fiocruz identificou que 63% dos casos de coronavírus em Santa Catarina são causados por novas variantes.
Na Grande Florianópolis, mais de 80% dos casos de Covid-19 são por infecções da P.1. A informação é de uma pesquisa feita pelo laboratório Santa Luzia em parceria com o Observatório Covid-19 da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e as vigilâncias estadual e municipal.
Diferenças entre as variantes e o coronavírus “original”
A variante brasileira P.1, originária de Manaus, é uma das “variantes de preocupação”, chamadas VOCs (sigla utilizada para descrever formas do vírus com mutações que podem causar estrago do ponto de vista de saúde pública). De acordo com o professor de imunologia da UFSC, André Báfica, em comparação com o vírus “original”, a P.1 tem 17 mutações únicas, incluindo três mutações no domínio RBD da proteína Spike, que liga o coronavírus às células humanas.
Além dessa variante, outras também causam preocupação. Entre elas, a P.2, identificada pela primeira vez no Rio de Janeiro, a B.1.1.7, que surgiu no Reino Unido, a B.1.351, localizada inicialmente na África do Sul, e duas linhagens encontradas nos Estados Unidos, a B.1.526, encontrada em Nova York, e a CAL.20C, no sul da Califórnia.
Recentemente, pesquisadores da Rede Vírus, da Rede Corona-ômica-BR e do Laboratório Nacional de Computação Científica, encontraram uma nova variante, ainda não caracterizada como uma linhagem distinta, no país. Batizada de N.9, essa forma vem de uma outra parte da árvore evolutiva do Sars-CoV-2, distinta daquela que originou a P.1 e P.2, mas também possui a mutação E484K, que reduz a ação de anticorpos neutralizantes. A variante ainda está sob investigação e não é, no momento, uma VOC.
Variantes do coronavírus são mais transmissíveis
Uma das principais preocupações destacadas por especialistas é a maior transmissibilidade das variantes. O professor Glauber Wagner explica que isso ocorre porque as mutações geram maior reconhecimento das células humanas, o que permite que o vírus invada mais rapidamente a célula e na mesma velocidade consiga se replicar.
Além disso, algumas das mutações que estão presentes na variante já foram associadas a reinfecções, o que também mostra uma capacidade de escapar do sistema imune natural.
Como as variantes surgem
Uma variante pode surgir a qualquer momento, em qualquer lugar do mundo. Basta ela invadir uma célula, replicar, ter um acúmulo de mutações no seu material genético e essas mutações melhorarem a capacidade do vírus de causar o processo infeccioso. As variantes que têm esse “sucesso” se tornam mais predominantes.
Quanto mais gente infectada, mais o vírus se multiplica. Quanto mais o vírus circula, mais mutações vão aparecer, mais chances de ter variantes novas surgindo pelo mundo — explica Wagner.
Como combater as mutações do coronavírus
Apontadas muitas vezes como a causa da piora da pandemia no Brasil, e em Santa Catarina, as variantes são resultado do descontrole da pandemia e da alta circulação de pessoas. Para os professores de imunologia da UFSC, a melhor forma de combater a circulação da variante é a adoção de medidas mais restritivas pelas autoridades e a vacinação rápida para todas as pessoas.
A solução é bloquear a transmissão do vírus. Evidentemente, a melhor forma de fazer isso é a imunização. A única coisa que realmente vai permitir a volta a uma normalidade, ainda que não seja a normalidade pré-pandemia, é a vacina.
Por que muitos pesquisadores do mundo inteiro estão preocupados com o Brasil? Porque o Brasil não está controlando a pandemia. Como nós temos uma variante altamente infectiva, a taxa de transmissão é muito elevada. Isso faz com que exista a possibilidade de criação de mais variantes no país.
As variantes podem atrapalhar as vacinas?
A variante britânica não parece causar impacto potencial nas vacinas disponíveis contra a Covid-19. A variante da África do Sul, quando testada contra o soro de indivíduos vacinados com as vacinas da Pfizer, Moderna e Oxford/AstraZeneca, diminuiu significativamente o nível de anticorpos presentes no sangue.
Como a ação de anticorpos é um dos mecanismos de resposta imune, essa variante pode potencialmente reduzir a eficácia das vacinas, segundo estudos feitos na África do Sul com as vacinas da Novavax e da Janssen, que tiveram uma redução na eficácia de seus imunizantes (de 89,1% para 48,6%, no caso da Novavax, e de 72% para 64%, para a Janssen) quando testados naquele país.
Estudo com o soro de indivíduos vacinados com as vacinas da Pfizer e Moderna contra a variante de Manaus apontou redução nos anticorpos neutralizantes, embora em uma proporção menor do que o observado com a B.1.351. A Janssen conduziu testes na América Latina e verificou uma redução da eficácia de sua vacina na região, embora não haja ainda confirmação de que essa redução estaria ligada à P.1.
Já dados preliminares ainda não divulgados oficialmente das vacinas da Oxford/AstraZeneca e CoronaVac indicam que essas vacinas são eficazes contra a P.1, de Manaus.
O estudo das vacinas da Pfizer e Moderna com soro de indivíduos vacinados apontou redução de anticorpos quando testados contra a variante P.2, mas não há dados concretos sobre redução de eficácia. Para as demais vacinas, não há dados.
É importante ressaltar que, mesmo com a redução de eficácia, as vacinas ainda têm potencial em reduzir a hospitalização e severidade da doença, e não houve mortes no grupo de indivíduos vacinados dos dois estudos, indicando proteção contra mortes. Além disso, elas protegem contra a linhagem ancestral do vírus e ainda podem ser boas aliadas para a imunização da população.
Fonte: NSC Total
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